8 de janeiro de 2008


Iomar Travaglin
itravaglin@yahoo.com.br

As cidades e a urbanização
Por: Iomar Travaglin


A palavra “cidade” indica o lugar densamente povoado onde a urbanização adquire, através da arquitetura, uma de suas principais características. Todos os centros urbanos possuem desenvolvimento característico ratificado por condições sócio culturais de uma ou mais culturas. Os centros urbanos de São Paulo e Rio de Janeiro surgiram respectivamente em 25 de janeiro de 1554 e 1º de março de 1567 e são, pela localização, diferenciada quanto a sua ordenação e desenvolvimento onde muitos são os fatores que determinam à análise dos historiadores quanto à aglomeração humana e disposição de suas moradias. O consenso gira em torno das cidades próximas ao mar se basearem em fortificações que as protejam e assim, em sua maioria, ordenadas por engenheiros militares principalmente depois da invasão holandesa a Salvador em 1624. Na colônia os centros urbanos eram compostos como apêndices das grandes plantações. Nas Vilas ou cidades se instalavam funcionários, órgãos administrativos e a Igreja. Em períodos específicos do ano os senhores de engenho saiam de suas propriedades rurais para procissões, manifestações litúrgicas e contato com a metrópole. São Paulo não fugiu a regra de formação religiosa, pois remonta a um colégio e conseqüente Igreja que tinha por intuito a catequese dos índios da região e estava localizada onde se encontra hoje o pátio do colégio entre os rios Tamanduateí e Anhangabaú. Nos anos que se seguiram, a vila de São Paulo evoluiu lentamente e consta-se que em 1780 havia 18 ruas e uma média de quatrocentas casas de famílias. Sergio Buarque de Holanda em estudo de comparação entre o centro Hispano americano e Português demonstra a forma desordenada que aqui cresciam as cidades em detrimento a Espanha que construía a colônia como divulgadora e ratificadora de sua cultura, onde fidalgos “preservavam” a cultura Ibérica com a ordenação da arquitetura mercantil, social e política. O que não acontecia em São Paulo onde reinavam a “desordem“ e o descaso urbanístico. O Rio de Janeiro, em contrapartida, obteve um incentivo graças à vinda da Família Imperial portuguesa em 1808. Além de diretamente modificar o espaço urbano do Rio de Janeiro, região em alguns pontos íngreme e praiana, a vinda da corte trouxe importantes incentivos para o país como um todo. No entanto a idéia de corte que adveio ao Brasil facilitou uma expansão sócio-cultural baseada na metrópole portuguesa que do lado econômico visava somente à extração de matéria prima à sombra do regime absolutista vigente na Europa de antes das invasões napoleônicas. Residências oficiais foram construídas e adaptadas para a estadia da corte algumas em moldes europeus com artistas idem. Lenta, mas gradativamente a cidade do Rio de janeiro foi crescendo como centro político do país e após a Independência em 1822 havia o interessante contraste de centro político do país, Rio de janeiro, e o enriquecimento das regiões interioranas com o cultivo do café; São Paulo. O Café no auge da produção passaria, após a escravidão, a absorver mão de obra italiana com grande massa de trabalhadores, e, abria espaço para mais uma etnia na já grande cultura brasileira cuja miscigenação, constituída de escravos negros, índios, portugueses, ingleses e franceses produziu uma cultura peculiar em termos de identidade. A população crescendo surgiu a necessidade de uma organização que parte de saneamento, segurança, urbanização e progresso resultando na formação de uma população cada vez mais institucionalizada e compacta. Pioneiro nos estudos sobre cidades e centros urbanos, Fustel de Coulanges, coloca como composição e gênese à noção de Cidade Estado e idealização urbana pela órbita familiar Greco romana. Gustave Glotez, posteriormente, realizaria um estudo em oposição a este autor onde entraria o contexto econômico. Um exemplo seriam cidades vivendo em torno de um mercado compondo o que poderia ser uma visão mercantilista. Max Weber por sua vez adotaria esta idéia juntamente com o método comparativo a outras cidades numa medida mais profunda e Pirini, outro pesquisador, coloca, ciente das idéias desses estudiosos mostra aspectos jurídicos e econômicos como requisitos básicos de aglomeração urbana.
Em outro contexto, a inovação na análise das cidades, veio de George Simmel que estudava a influencia dos centros urbanos na psique analisando o espaço urbano quanto à modernidade e o que dela resulta no convívio social. Na década de 1910 escreveria sobre o impacto psicológico da cidade em relação ao ser humano, tese onde o autor apresenta a idéia de que haveria nos centros urbanos fatores psicológicos que levariam seus habitantes a uma legitimação de poder através de sinais específicos; estatuas eqüestres, sinais religiosos e administrativos e até a uma ‘doença’ moderna que hoje conhecemos como stress, trazendo uma sociedade voltada à individualidade e apatia perante acontecimentos não corriqueiros tornando-os banais. Walter Benjamim seguidor das idéias de Simmel elabora sua teoria sobre a Modernidade hoje conhecida e divulgada nos meios acadêmicos partindo de algumas de suas premissas.
Vendo que hoje, nos grandes centros urbanos, as idéias de Simmel estão presentes na perda de referencia de tempo e na correria do dia a dia. Viver em grandes centros urbanos possui prós e contras que podem ser melhorados com abordagens políticas que visem o “Bem Estar” acompanhado da preservação de valores históricos de identidade. Pela postura de nossos governantes e da própria população, embora muita coisa foi realizada em prol da cidade, estamos longe disso

Bibliografia:VAINFAS, Ronaldo. Dicionário do Brasil Colonial (1500-1808). São Paulo: Objetiva, 2000.



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