25 de junho de 2007

Por: Iomar Travaglin
itravaglin@yahoo.com.br


Produções marcantes do cinema que abordam loucura e distúrbios psicológicos.
Por: Iomar Travaglin

No auge do cinema americano os roteiros obedeciam a regras que privilegiavam temas leves e com final feliz ao contrário de outros ousados para a época e por esse motivo tratados com reserva. Após a segunda metade do século, já em sua considerada decadência devido advento da televisão, houve a possibilidade de atores e diretores “burlar” a censura vigente com roteiros inteligentes sugerindo situações delicadas e realistas nas entrelinhas.
Dentre as situações mais delicadas estavam roteiros que envolviam loucura e os chamados distúrbios psicológicos. Movidos a um crescente interesse comercial, talentosos diretores e roteiristas realizaram em Hollywood grandes clássicos com glamour e elegância baseados em livros e peças de teatro de atores consagrados. Escrito por Tennessee Williams (1911-1983) também autor do texto de O Bonde chamado desejo, grande sucesso do teatro e posteriormente filmado por Elia Kazan em 1953, o filme Derrepente no último verão, de Joseph Mankievitz, 1959, apresenta Elizabeth Taylor como uma jovem que presencia o assassinato de seu primo e, por interferência de sua tia, mãe da vitima, é tida como louca e internada em uma clinica para ser submetida a uma lobotomia, cirurgia que a faria esquecer da verdadeira circunstância da morte. O tema, ousado para a época, traz além de Taylor, Katherine Hepburn como a tia e Montgomery Clift como o psiquiatra que desconfia da história e parte para a resolução do caso apaixonando-se pela bela paciente.
Segundo a crítica especializada temos aqui o primeiro papel reconhecidamente convincente de Elizabete Taylor, embora tenha realizado, e muito bem em 1957, A árvore da felicidade, Raintree County, de Edward Dmytryk . Este filme, aliás, além de também abordar o assunto loucura e obsessão apresentava no elenco Montgomery Clift no auge da beleza antes do acidente que desfiguraria seu rosto. Nota-se, vendo os dois filmes, a diferença física e as dificuldades do ator em interpretar. Com o rosto reconstituído com fios de platina, por vezes prejudicando sua fala, o ator acabou cedendo à dependência de calmantes e analgésicos e aos problemas psicológicos derivados das pressões quanto a sua sexualidade falecendo prematuramente em 1966. Atenção para a cena da revelação da personagem de Taylor sobre o assassinato, considerado o melhor de sua carreira; no estranho jardim que na trama possui um importante significado e na cena da praia onde Taylor aparece em provocante maiô. No drama Amar foi minha ruína, filme de John M. Stahl, produzido em 1945 a personagem principal utiliza sua beleza e carisma para prejudicar familiares, não hesitando em matar, no intuito de preservar somente para si o amor do marido. Este filme, original em inglês Leave Her to Heaven, título a meu ver muito mais apropriado, foi alvo de estudos psicológicos e até hoje é uma referencia no assunto, pois, na primeira aparição da personagem de Gene e no diálogo que se segue podemos perceber a marca do cinema Filme Noir onde vale a premissa de que conhecer belas jovens pode se transformar em uma grande encrenca.
Reparem nos diálogos, na cena do lago e da escada, pontos altos do filme. Assim como estas são muitas as produções do período sobre o assunto: As três máscaras de Eva, O mundo de Charly, Psicose, etc., fazendo pensar que apesar da diversidade atual muita coisa já havia sido pensada. Ultimamente podemos assistir produções marcantes e requintadas baseadas na história real como Juana, la loca, de Vicente Aranda, 2001, mostrando uma princesa espanhola do século XVI que supostamente enlouqueceu ao perder seu marido e A professora de piano, do diretor Michael Haneke, também de 2001 com uma Isabelle Hupert em grande forma numa interpretação forte de amor obsessivo. Diante disso podemos entender que, entre outros fatores de importância, a censura e o preconceito possibilitaram o desenvolvimento de roteiros elaborados onde a sugestão e a subjetividade realizariam grandes obras, hoje, concretas referencias da atualidade cinematográfica.

Catherine Hepburn, Clift e Elizabeth Taylor

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