Primeiro papel dramático de Marilyn, Almas desesperadas, dirigido por Roy Ward Baker é uma produção onde se tenha tentado mostrar o talento de uma atriz que até o momento se mostrava como símbolo sexual, fato que pode ser visto no pôster do filme com uma imagem sedutora, provavelmente, por estar no auge de sua beleza e carisma. O resultado é que Monroe não somente convence como atriz dramática, como também sensibiliza com uma convincente, assustadora e ainda ambígua caracterização. Repare nos ótimos diálogos e nos extras com o pôster original de época, na estréia da atriz Anne Bancroft e em Richard Widmark. A produção mostra o cinema norte americano em época de transição, com temas ousados e proibidos pelo código de censura imposto pelos grandes estúdios.
O cinema dos anos trinta e quarenta começava a declinar em função de outras mídias como a televisão, que impunha a visão doméstica da imagem e do glamour. Nesta época os grandes estúdios se rivalizavam contratando atores e atrizes com contrato exclusivo para produções cada vez mais sofisticadas. Diante da produção quase industrial, Hollywood moldou toda uma sociedade ainda hoje fascinada com o glamour e riqueza representada pelo Star Systen que cobrança um preço alto dos seus contratados: os estúdios ditavam desde a maneira de se comportar, como se vestir; e até mesmo questões íntimas como casamentos e romances. Diante dessa situação radical, não raro muitos atores e atrizes sucumbiam a um ritmo estressante de gravações e pressões pessoais. Em época de liberação feminina, muitas atrizes fumavam, utilizando o fumo para se equiparar aos homens, detalhe que na realidade também envolvia patrocínio da indústria do tabaco nas produções. O fumo fez com que este fosse associado ao glamour e este ato era considerado moderno e elegante. Relatos de uso de drogas foram uma constante na historia do cinema, muitos protagonistas e diretores com agenda de vários filmes anuais, tomavam remédio para dormir e também para não dormir já que em muitos casos as gravações eram à noite para uso melhor do tempo. Este fato aliado as estafantes entrevistas e agenda de divulgação acabavam por fazer com que dependências de medicamentos fossem uma constante, um caso de dependência ainda hoje relatado é da atriz Judy Garland que apesar de ótima atriz e cantora esteve por vezes envolvida em crises até falecer precocemente na década de 1960.
Norma Jean Baker ou Marilyn Monroe (1923-1963), nascida em 1923, hoje estaria com mais de 80 anos, permanece viva em imagens e filmes cada vez mais reprisados. Com uma infância infeliz e desestruturada, não conheceu o pai, e sua mãe, Gladys Pearl Monroe, sofreu problemas psiquiátricos falecendo em um hospital sem reconhecer a filha. Seu nome veio de uma atriz que sua mãe tinha especial predileção: Norma Talmadge (1893-1957), atriz do cinema mudo. E neste caso é interessante a semelhança das imagens realizadas num intervalo de quase 30 anos entre Norma e Monroe (Fig.3). Em 1955, apos este seu primeiro papel dramatico, Marilyn acreditava que podia se livrar da imagem que a consagrara de mulher sensual e voluptosa voltando-se a busca de seriedade e experiência como atriz. Para isto, mudou-se para Hollywood e foi estudar na prestigiada escola de interpretação de Lee Strasberg. Abriu em seguida sua própria produtora, Marilyn Monroe Productions, produzindo os filmes Bus Stop e The Prince and the Showgirl, este último contracenando com o respeitado ator inglês Laurence Olivier. Depois de vários casamentos, depressão, crises e um rumoroso caso com o presidente norte americano John Kennedy. Faleceu por ingestão demasiada de pílulas para dormir e embora estivesse só no momento da morte, hoje se contesta a tese de suicídio. Sabe-se que as tentativas de sair da imagem de mulher sensual e pouco inteligente foi uma constante em sua vida, mass problemas com álcool e drogas a fizeram sucumbir psicologicamente. Porem, em seus filmes existe a impressão que Marilyn não era o que aparentava ser. Suas interpretações dramáticas são cultuadas e reconhecidas, seus números musicais impecáveis. Logo após este seu primeiro papel dramático, a fotografa Eve Arnold, flagrou Marilyn lendo o clássico de James Joyce, Ulisses, considerado de grande complexidade pela maneira metafórica que apresenta a história de Homero transposta no cotidiano do personagem Leopold Bloom. (Fig.2) Em sua memória sobre a realização da imagem, a fotógrafa relata que mesmo ela se espantou pelo fato da atriz estar quase no final e mostrar suas impressões sobre o assunto.
Cinco dias antes de falecer em uma entrevista para a Revista Life, a atriz comentando sua súbita demissão de Something´s got to give, supostamente por problemas gerados por álcool e drogas, disse que a "fama é tênue": "Ela sempre acaba indo embora, então adeus a ela". A atriz se foi, mas sua imagem ficou associada para sempre na historia do cinema como sinônimo de glamour.
Do Cinema para o mundo.
A entrega do Oscar, maior prêmio do cinema norte americano, atrai divisas para a indústria da moda, que entre outras formas de marketing utiliza os figurinos dos atores usados no chamado tapete vermelho para movimentar milhões. A moda sempre teve um especial lugar no cinema e os estúdios possuíam um exercito de figurinistas que mobilizavam para realização de produções diversas. Casos curiosos envolvendo os atores e o cinema por sua influencia são exemplos importantes, alguns entrando até no lado econômico: conta-se, por exemplo, que o astro Clark Gable no filme Aconteceu naquela noite (1934) ao aparecer sem camiseta regata, hábito comum entre os homens de então, provocou uma queda na venda desse produto, obrigando o estúdio a fazer uma campanha com o astro para normalizar o mercado. Este filme também teve o mérito de popularizar os pijamas masculinos para homens e mulheres, quando os atores principais, Claudete Colbert e Gable utilizaram pijamas numa determinada cena. A frase de Marilyn dizendo que dormia somente com “...duas gotas de Chanel no 5”, elevou a procura pelo perfume. Um grande meio de divulgação da moda e glamour foi a fotografia. Neste expoente, o fotografo mais importante em termos de representação foi George Hurrel. Anteriormente pintor e em época pré photoshop especializou-se em um tipo de fotografia que “divinizava” os retratados. Retocando diretamente no negativo e criando ambientes oníricos e sombreados com cuidado, fazia dos atores “deuses” e “deusas” de Hollywood, mostravam-se inacessíveis e perfeitos para os mortais consumidores de seus filmes. No retrato de uma das mais belas e inteligentes atrizes da época de ouro de Hollywood; a atriz Frances Farmer, verificamos a alusão a uma auréola como símbolo de alguém que emite luz ou está cercado de realeza (fig.4). Ironias a parte, Frances Farmer, foi uma mulher de temperamento forte e avessa a regras dos estúdios em formar estrelas, esteve na Rússia, e no contato com aquele país foi acusada na volta aos Estados Unidos de “simpatia” ao comunismo. Sua mãe, ao ver a filha avessa ao glamour e na oportunidade que isso representava provocou desavenças que resultaram em agressões e crises culminando com internações psiquiátricas e ao final, segundo informações não confirmadas, uma lobotomia. Jessica Lange, em 1982, realizou produção sobre sua tumultuada vida chamada Frances ganhando prêmios e indicações de melhor atriz, Curt Cobain, líder do Nirvana também se dizia admirador da bela atriz incluindo no álbum “In Utero” a música em sua homenagem “Frances Farmer Will have her a revange on Seattle”.
Loiras e belas, Francis e Marilyn tiveram destinos comuns no cinema e foram em seu devido tempo vitimas de um sistema que as consumiu. O mais completo estudo neste sentido foi realizado por Edgar Morin no livro Les Stars, onde expõe de forma pormenorizada o Star Systen ou sistema de estrelas regido por um grupo de empresários interessados na produção industrial cinematográfica e que posteriormente foi substituído por uma mídia que trata o ator, de forma mais aberta, igualmente como mercadoria.
De forma geral, infelizmente, o mito da loira com pouca inteligência e o preconceito com pessoas presas em um estereótipo, ainda esta presente na nossa sociedade como uma marca fixada na aparência física, fato definitivamente fora de muitas realidades do campo artístico.
O cinema dos anos trinta e quarenta começava a declinar em função de outras mídias como a televisão, que impunha a visão doméstica da imagem e do glamour. Nesta época os grandes estúdios se rivalizavam contratando atores e atrizes com contrato exclusivo para produções cada vez mais sofisticadas. Diante da produção quase industrial, Hollywood moldou toda uma sociedade ainda hoje fascinada com o glamour e riqueza representada pelo Star Systen que cobrança um preço alto dos seus contratados: os estúdios ditavam desde a maneira de se comportar, como se vestir; e até mesmo questões íntimas como casamentos e romances. Diante dessa situação radical, não raro muitos atores e atrizes sucumbiam a um ritmo estressante de gravações e pressões pessoais. Em época de liberação feminina, muitas atrizes fumavam, utilizando o fumo para se equiparar aos homens, detalhe que na realidade também envolvia patrocínio da indústria do tabaco nas produções. O fumo fez com que este fosse associado ao glamour e este ato era considerado moderno e elegante. Relatos de uso de drogas foram uma constante na historia do cinema, muitos protagonistas e diretores com agenda de vários filmes anuais, tomavam remédio para dormir e também para não dormir já que em muitos casos as gravações eram à noite para uso melhor do tempo. Este fato aliado as estafantes entrevistas e agenda de divulgação acabavam por fazer com que dependências de medicamentos fossem uma constante, um caso de dependência ainda hoje relatado é da atriz Judy Garland que apesar de ótima atriz e cantora esteve por vezes envolvida em crises até falecer precocemente na década de 1960.
Norma Jean Baker ou Marilyn Monroe (1923-1963), nascida em 1923, hoje estaria com mais de 80 anos, permanece viva em imagens e filmes cada vez mais reprisados. Com uma infância infeliz e desestruturada, não conheceu o pai, e sua mãe, Gladys Pearl Monroe, sofreu problemas psiquiátricos falecendo em um hospital sem reconhecer a filha. Seu nome veio de uma atriz que sua mãe tinha especial predileção: Norma Talmadge (1893-1957), atriz do cinema mudo. E neste caso é interessante a semelhança das imagens realizadas num intervalo de quase 30 anos entre Norma e Monroe (Fig.3). Em 1955, apos este seu primeiro papel dramatico, Marilyn acreditava que podia se livrar da imagem que a consagrara de mulher sensual e voluptosa voltando-se a busca de seriedade e experiência como atriz. Para isto, mudou-se para Hollywood e foi estudar na prestigiada escola de interpretação de Lee Strasberg. Abriu em seguida sua própria produtora, Marilyn Monroe Productions, produzindo os filmes Bus Stop e The Prince and the Showgirl, este último contracenando com o respeitado ator inglês Laurence Olivier. Depois de vários casamentos, depressão, crises e um rumoroso caso com o presidente norte americano John Kennedy. Faleceu por ingestão demasiada de pílulas para dormir e embora estivesse só no momento da morte, hoje se contesta a tese de suicídio. Sabe-se que as tentativas de sair da imagem de mulher sensual e pouco inteligente foi uma constante em sua vida, mass problemas com álcool e drogas a fizeram sucumbir psicologicamente. Porem, em seus filmes existe a impressão que Marilyn não era o que aparentava ser. Suas interpretações dramáticas são cultuadas e reconhecidas, seus números musicais impecáveis. Logo após este seu primeiro papel dramático, a fotografa Eve Arnold, flagrou Marilyn lendo o clássico de James Joyce, Ulisses, considerado de grande complexidade pela maneira metafórica que apresenta a história de Homero transposta no cotidiano do personagem Leopold Bloom. (Fig.2) Em sua memória sobre a realização da imagem, a fotógrafa relata que mesmo ela se espantou pelo fato da atriz estar quase no final e mostrar suas impressões sobre o assunto.
Cinco dias antes de falecer em uma entrevista para a Revista Life, a atriz comentando sua súbita demissão de Something´s got to give, supostamente por problemas gerados por álcool e drogas, disse que a "fama é tênue": "Ela sempre acaba indo embora, então adeus a ela". A atriz se foi, mas sua imagem ficou associada para sempre na historia do cinema como sinônimo de glamour.
Do Cinema para o mundo.
A entrega do Oscar, maior prêmio do cinema norte americano, atrai divisas para a indústria da moda, que entre outras formas de marketing utiliza os figurinos dos atores usados no chamado tapete vermelho para movimentar milhões. A moda sempre teve um especial lugar no cinema e os estúdios possuíam um exercito de figurinistas que mobilizavam para realização de produções diversas. Casos curiosos envolvendo os atores e o cinema por sua influencia são exemplos importantes, alguns entrando até no lado econômico: conta-se, por exemplo, que o astro Clark Gable no filme Aconteceu naquela noite (1934) ao aparecer sem camiseta regata, hábito comum entre os homens de então, provocou uma queda na venda desse produto, obrigando o estúdio a fazer uma campanha com o astro para normalizar o mercado. Este filme também teve o mérito de popularizar os pijamas masculinos para homens e mulheres, quando os atores principais, Claudete Colbert e Gable utilizaram pijamas numa determinada cena. A frase de Marilyn dizendo que dormia somente com “...duas gotas de Chanel no 5”, elevou a procura pelo perfume. Um grande meio de divulgação da moda e glamour foi a fotografia. Neste expoente, o fotografo mais importante em termos de representação foi George Hurrel. Anteriormente pintor e em época pré photoshop especializou-se em um tipo de fotografia que “divinizava” os retratados. Retocando diretamente no negativo e criando ambientes oníricos e sombreados com cuidado, fazia dos atores “deuses” e “deusas” de Hollywood, mostravam-se inacessíveis e perfeitos para os mortais consumidores de seus filmes. No retrato de uma das mais belas e inteligentes atrizes da época de ouro de Hollywood; a atriz Frances Farmer, verificamos a alusão a uma auréola como símbolo de alguém que emite luz ou está cercado de realeza (fig.4). Ironias a parte, Frances Farmer, foi uma mulher de temperamento forte e avessa a regras dos estúdios em formar estrelas, esteve na Rússia, e no contato com aquele país foi acusada na volta aos Estados Unidos de “simpatia” ao comunismo. Sua mãe, ao ver a filha avessa ao glamour e na oportunidade que isso representava provocou desavenças que resultaram em agressões e crises culminando com internações psiquiátricas e ao final, segundo informações não confirmadas, uma lobotomia. Jessica Lange, em 1982, realizou produção sobre sua tumultuada vida chamada Frances ganhando prêmios e indicações de melhor atriz, Curt Cobain, líder do Nirvana também se dizia admirador da bela atriz incluindo no álbum “In Utero” a música em sua homenagem “Frances Farmer Will have her a revange on Seattle”.
Loiras e belas, Francis e Marilyn tiveram destinos comuns no cinema e foram em seu devido tempo vitimas de um sistema que as consumiu. O mais completo estudo neste sentido foi realizado por Edgar Morin no livro Les Stars, onde expõe de forma pormenorizada o Star Systen ou sistema de estrelas regido por um grupo de empresários interessados na produção industrial cinematográfica e que posteriormente foi substituído por uma mídia que trata o ator, de forma mais aberta, igualmente como mercadoria.
De forma geral, infelizmente, o mito da loira com pouca inteligência e o preconceito com pessoas presas em um estereótipo, ainda esta presente na nossa sociedade como uma marca fixada na aparência física, fato definitivamente fora de muitas realidades do campo artístico.
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Imagem retirada da revista History photography. Outono de 2002. (Fig.2) |
Norma Talmadge e Norma Jean Baker (Fig.3) Imagens retiradas da Internet. |
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Frances Farmer (Fig.4). George Hurrel. Portraits of Glamour. (Internet) |
Reprodução da capa original do filme |
ALMAS DESESPERADAS
Título Original: Don't Bother to Knock. 1952; Direção: Roy Ward Baker; Roteiro: Daniel Taradash, Baseado em livro de: Charlotte Armstrong; Produção: Julien Blaustein; Música: Lionel Newman; Fotografia: Lucien Ballard; Elenco: Richard Widmark (Jed Towers), Marilyn Monroe (Nell Forbes), Anne Bancroft (Lyn Lesley).
Livros e filmes sobre o assunto:
MORIN, Edgar. Les Stars. Paris: Galilee, 1984.
MORIN, Edgar. O cinema ou o homem imaginário: ensaio de antropologia. Lisboa: Relógio d'água, 1997.
HURRELL, George. George Hurrell: portraits glamour d'Hollywood. Munich: Schirmer, 1993.
LURIE, Alison. A linguagem das roupas. Rio de janeiro: Rocco, 1997.
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