7 de março de 2010



Sob o domínio do mal
 Filmes como Clube da Luta, 1999, dirigido por David Fincher, e O suspeito da Rua Arlington, 1999, dirigido por Mark Pellington, além de grandes produções são conhecidas por apresentar coincidências; uma delas é a data de produção a outra, os atentados do dia 11 de setembro de 2001; no "Clube", por exemplo, a cena final apresenta a implosão do World Trade Center, que na trama é o “maldito” símbolo do Capitalismo, e, no "Suspeito", vemos um complô para explodir o Pentágono. Atos, nas produções, realizadas por nativos americanos.

Coincidências trágicas, no entanto, não são recentes no cinema americano, basta ver o filme The Manchurian Candidate (2004), no Brasil com o título Sob o domínio do mal, e seu homônimo original produzido em 1962, dirigido por John Frankenheimer.

Originalmente o enredo mostra um jovem soldado transformado em político pela mãe dominadora que faz de tudo para torná-lo presidente, inclusive envolvendo-o em um experimento científico russo que vai transformá-lo em frio assassino.

O cantor Frank Sinatra, ator principal e também produtor, considerava este filme seu favorito, mesmo que no enredo houvesse um complô para assassinar o presidente dos Estados Unidos da América o que logo aconteceu tragicamente.

Sinatra, aliás, tentou impedir como produtor a divulgação do filme em respeito à morte de Kennedy, pois, alem de serem amigos na vida real foi lançado pouco antes do atentado de Dallas, provocando grande polêmica.

Na versão de Frankenheimer a trama gira em torno da Guerra Fria fato substituído na recente versão por um grupo de industriais globalizados com interesses comerciais. Ângela Lansbury, atriz veterana de Hollywood conhecida do grande público pelo filme Se minha cama voasse, de Robert Stevenson, filmado em 1971 e o Clássico O retrato de Dorian Gray, 1945, dirigido por Albert Lewin, sobre a famosa obra de Oscar Wilde, tem com certeza o maior desempenho de sua carreira como uma mãe dominadora e maquiavélica que não hesita em sacrificar o próprio filho na política. E na segunda versão, publicamente rejeitada pelos atores sobreviventes da primeira, Merril Strip não fica atrás com um desempenho impecável.

Merece atenção no enredo o recurso utilizado para a lavagem cerebral (uma aula de jardinagem); na relação ambígua de amor entre mãe e filho, assim como na cena do atentado, imaginando, como isto deve ter repercutido mal no povo americano com a morte de Kennedy.

Rara ocasião para verificar que versões podem ser realizadas sem comprometer a idéia original mantendo o impacto e interesse, mesmo que esse interesse possa ser trágico ao revelar uma sociedade, hoje, de notória contrariedade do ponto de vista político.

Atentados brasileiros com pouca "mira".
Ao contrário do que registra na história norte-americana os atentados são poucos no Brasil embora alguns tenham realizado lamentáveis estragos. Um atentado menos conhecido ocorrido contra o Imperador Pedro II, deu-se na noite de 15 de junho de 1889, quando saía com a família do Teatro Sant´Ana, no Rio de janeiro, após assistir um concerto. No meio da multidão ouviu-se um grito de “Viva a República!” e em seguida foi disparado um tiro à queima roupa contra o monarca, que por milagre não foi atingido. O agressor, um português de Coimbra, chamado Adriano do Vale foi absolvido e libertado uma semana após a proclamação da República. O homem que tentou esfaquear Prudente de Morais, em 1897, por exemplo, acabou matando o seu ministro da Guerra, General Carlos Machado Bittencourt e a bomba-relógio contra Costa e Silva que explodiu no aeroporto dos Guararapes, em Recife, em 1966, matou duas pessoas e ferindo 13, o marechal dela saiu ileso.

A Guerra Fria
Historicamente a rivalidade entre a antiga URSS e os Estados unidos da América mais conhecida como Guerra Fria teria se iniciado após a Segunda Grande Guerra (1939-1945), quando o presidente Harry Truman levantou suspeitas quanto a postura conspiratória dos comunistas. Nascia assim a doutrina da Contenção, proposta que a princípio ajudaria financeiramente a Grécia e Turquia, e por extensão a todos os países interessados a conter o comunismo. Por outro lado, A URSS aliou-se a Polônia e Tchecoslováquia marcando uma divisão na Europa. Esta estratégia ficou conhecida na Rússia como a doutrina Jdanov que afirmava uma divisão do mundo em dois blocos antagônicos e poderosos. Todo esse processo culminou na tensão dos anos seguintes, quando foi obtido o equilíbrio nuclear, (1949) e, conseqüentemente, o terror e ameaças recíprocas.

A arte america da na Guerra Fria
Em termos de obra artística um dos destaques é o artista Roy Liechtenstein onde valoriza o traço das histórias em quadrinhos transformando-as em arte, e um de seus trabalhos critica a arte bélica nos quadrinhos adotando essa linguagem popular como forma de expressão (Fig. 1). A Pop Art, movimento da qual faziam parte também Andy Worhol, Claes Oldenburg e Allen Jones critica a cultura de massa tornando-a objeto artístico.

Na arte e na vida mães trágicas amorosas e dominadoras
Sejam boas ou más, Infindáveis são as personagens femininas no cinema que apresentaram mães inesquecíveis como as personagens dos citados filmes. Dentro de estudos artísticos a maternidade, até a Idade Média, era divina e os artistas se inspiravam na Mãe de Jesus mais por encomenda de religiosos do que propriamente inspiração. Só a partir do Renascimento e o conseqüente desenvolvimento do gênero retrato, é que a maternidade foi retratada dentro de uma pretensa realidade. Em alguns momentos muitas rainhas e membros da nobreza tiveram seu rosto “emprestado” para as chamadas Madonas prevalecendo uma forma de legitimação de poder mais do que propriamente santidade.

Apresentamos como ilustração o quadro A Virgem e o menino pintado por Jean Fouquet por volta de 1481, que é na realidade o retrato de Ágnes Sorel. Famosa por sua beleza, inteligência e bondade era amante do rei Francês Carlos VII com o qual teve vários filhos. Segundo a tradição era dona do amor platônico do pintor que a retratou em dois momentos: uma como senhora do castelo de Lorches, onde vivia, e outra como a “rainha dos céus” na tentativa de realçar suas virtudes. (Fig. 2).

Alguns quadros maternais tocam pela maneira pouco convencional de representação onde, conforme a origem, cada figura expressa seu amor de forma diferenciada: Inglaterra, mais contido; França pré revolução, mais arrebatado e Brasil, natural e aconchegante.

O primeiro aqui apresentado, A condessa Spencer e sua filha Georgiana, é inglês e foi pintado em 1760 por Sir Josua Reynolds, (Fig. 3). Neste encantador retrato, o artista, além de mostrar a habilidade das pinceladas nas rendas, sedas e pelos do cachorro, traz a maneira delicada com que a Condessa envolve sua filha, aliás, a retratada é uma ancestral de Diana Spencer, Princesa de Gales, 1961-1997, falecida em trágico acidente de automóvel e conhecida pelo extremado amor aos filhos. Outro exemplo é o auto-retrato de Vigeé LeBrum e sua filha no quadro Auto-retrato com Julie, 1789. Fora do convencional e realizado com grande maestria, sobretudo na pose da criança que apresenta um olhar que não é tecnicamente convincente mas perfeito na expressão (Fig. 4). O brasileiro Eliseu Visconti, com Maternidade, do acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo (Fig. 5), nos apresenta uma imagem que merece ser vista “de perto” pelos preciosismos dos detalhes. Visconti, segundo alguns críticos, foi o precursor do simbolismo e impressionismo francês no Brasil. sendo também um dos primeiros artistas brasileiros a se inspirar no movimento Art Nouveau.

Medéia, que inspirou dramaturgos e poetas como Eurípides (431 a. C.), Sêneca (Séc. I a. C.), Corneille 1635 e Anouilh, 1953, conta a história da lendária feiticeira que fugiu com Jasão, mas, como ele a abandonou vingou-se degolando os próprios filhos que havia tido com ele. No cinema a versão cinematográfica de Píer Paolo Pasolini, 1972-1975, Medéia, com a cantora lírica Maria Callas, 1923-1977, é talvez a mais marcante.

No Brasil, Chico Buarque e Paulo Pontes escreveram a versão de Medéia para teatro, com o nome de Gota D’água em 1975. Protagonizada por Bibi Ferreira no papel principal e ambientada no Rio de janeiro, é considerada um marco pela qualidade das músicas e interpretação, no entanto, foi a atriz Cleide Yáconis quem protagonizou a Medéia nos moldes do texto grego sendo aclamada pela crítica especializada como a melhor interpretação brasileira dessa personagem.

Como mãe amorosa, mas, fruto de relações inusitadas para a época, Chica da Silva e João Fernandes foram os que mais se aproximaram de modelo familiar. João Fernandes conheceu Chica, e, ao que parece, foi amor à primeira vista. Comprou-a, deu-lhe a liberdade e com ela manteve uma relação estável com onze filhos, todos reconhecidos com títulos e casados com famílias proeminentes. Mesmo com João Fernandes partindo para Lisboa, em 1770, Chica não mediu esforços na criação dos filhos e para isto deu-lhes a melhor educação. Segundo pesquisas recentes Chica nada tem da imagem do filme, interpretado por Zezé Motta, pois, a sociedade que lhe foi adversa no filme, lhe prestaria homenagens como benfeitora, sendo enterrada com toda pompa no cemitério da Igreja de São Francisco de Assis, destinado aos brancos ricos.

Livros e filmes pesquisados:
EURIPEDES. Medéia, As Bacantes. São Paulo: Abril Cultural, 1976. 142 p. (Teatro Vivo). Editor Victor Civita. Por.

COSTA, Cristina. A imagem da mulher: um estudo de arte brasileira. Rio de Janeiro : Senac Rio, 2002. 199 p., il. Por.

FURTADO, Junia Ferreira. Chica da Silva e o contratador de diamantes: o outro lado do mito. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. 403 p.

Xica da Silva. Direção Caca Diegues. São Paulo: Grupo de Comunicação Três, 1976. Fita de vídeo, 117 min., Color.

Medéia. Direção Píer Paolo Pasolini. São Paulo: Versátil, 1969. DVD, 110 min., Color.
Sob o dominio do mal. Direção John Frankenheimer. São Paulo: [s.n.], 1962. 127 min., p&b.
Sob o domínio do mal. Direção Jonathan Demme. São Paulo: [s.n.], 2005. 130 min., color.

Sites consultados:
Acesso em 18/02/2010.

Acesso em 18/02/2010.
Acesso em 18/02/2010.


Agnes Sorel em dois momentos:
no quadro Virgem e menino de Jean Fouquet, pintado em 1481 e
mo Dama Palaciana em quadro do mesmo autor.


Sir Joshua Reynolds 1723-1792, Margareth, Contesse Spenser and yor daugther Georgiana.
Óleo sobre tela 1760/1. Quadro inglês com imagem de maternidade.


Maire Louise Elisabeth Vigée-Lebrun. 1755-1842.
Auto-retrato com Julie. 1789. Exemplo francês de imagem maternal.


Eliseu D´Angelo Visconti 1866-1944. Maternidade (Detalhe) 1906.
Exemplo brasileiro de pintura com figura materna




Nenhum comentário: