9 de agosto de 2007


Rita Domiciano
radomiciano@gmail.com
Sem anestesia
Por Rita Domiciano


 
Todo mundo quer ficar mais bonito e ninguém quer envelhecer. Você já pensou o que essa frase aí em cima está fazendo com a cabeça das pessoas hoje em dia? A perfeição plástica parece ser mais procurada do que sucesso, fama e dinheiro – coisas que dez entre dez aspirantes a celebridades sempre tiveram no topo de suas listas de desejos. Rosto liso e iluminado, corpo enxuto e sarado e, claro, um gatinho ou uma gatinha quinze anos mais novo (a) é a febre do momento.
E como conseguir esse semblante de diva? Fácil! Basta você fazer a dieta daquela apresentadora, aquela que você só come barras de cereal e sopa por sete dias, e ela garante que você não vai ficar doente e vai ficar com o corpinho igual ao dela. Mas, cuidado, leia as letrinhas miúdas, não faça a dieta por mais de sete dias seguidos, senão ela já não garante mais nada. Seu problema não é o peso, mas a flacidez? Sem problemas! É só você comprar aquele super-aparelho de abdominais, fazendo apenas três minutos por dia você fica com o corpo sarado, igualzinho ao dos modelos da propaganda. Mas não ligue agora, você ainda pode ganhar um gel contra estrias e celulite! Viu como é fácil? Basta ter dinheiro, um telefone e muita ingenuidade!

As coisas saíram do controle de uma forma tal, que até um creme anti-rugas que promete alterar seu DNA já foi inventado! Qual o problema de envelhecer? Por que as pessoas odeiam tanto suas rugas? Eu sei que essa é uma frase banal, mas elas realmente contam sua história. Cada ruga no seu rosto é um momento vivido, sofrido, ultrapassado. Elas servem pra te lembrar quem você é. Pra você não se perder achando que ainda tem dezoito anos, com um carro esporte, careca aparente e rabo de cavalo. Todo mundo passa por fases na vida e elas devem ser bem vividas!

Mas, se suas rugas realmente te incomodam, você pode recorrer às cirurgias plásticas, ao botox e outras intervenções que vão combinar seu exterior ao seu interior. Afinal de contas, o que é uma toxina botulínica na testa ou siliconezinho pra ficar com o bocão da Angelina Jolie? E isso é só o começo! Aquele culote que fica um horror na sua calça nova da Diesel vai embora numa lipo. Seu peitinho fica tão sem graça naquele top do Alexandre Herchcovitch? Silicone! 250 ml de cada lado devem bastar. Sem contar as outras tantas coisas que você pode mexer: arrebitar o nariz, tirar as bolsas debaixo dos olhos, levantar as sobrancelhas, esculpir a barriga, colocar bumbum e batata da perna... Ufa! Assim, qualquer uma vira diva!

Você não tem dinheiro pra tudo isso? Tudo bem, pelo menos no mundo virtual você pode ser maravilhosa! Como? Photoshop! Esse programa maravilhoso que faz todas as mulheres serem perfeitas e posarem peladas por aí. E os homens acreditarem que elas são assim de verdade e comprarem cada vez mais essas revistas. Aí, é só você colocar sua foto de modelo-anoréxica-numa-pose-sensual-com-pouca-roupa no orkut e esperar os milhões de babões que vão te deixar mensagens. Não acredita? Faça o teste, eu garanto! Qualquer semelhança com Paris Hilton e outras do gênero é mera coincidência.

Retocar fotografias não é coisa moderna. O grande fotógrafo George Hurrell, que fotografou as maiores estrelas do cinema americano nas décadas de 30 e 40, já sabia como transformá-las em divas. Aliás, eram suas fotografias que as colocavam no pedestal. Não que Rita Hayworth, Greta Garbo ou Bette Davis fossem feias, mas com a ajuda de Hurrell e seu retoque mágico... Explico. Hurrell foi um mestre da iluminação e conseguia trazer charme, glamour e elegância onde nada existia. Obsessivo e perfeccionista na arte da ilusão, Hurrell retocava a exaustão os negativos para eliminar imperfeições dos rostos e corpos das grandes estrelas.

Cada negativo era retocado e trabalhado com pó de grafite, retirando defeitos e linhas indesejadas. O resultado era uma transformação fotográfica feita por um pintor, que sabe, melhor do que ninguém, extrair refinamento e beleza de seus modelos; sua luz interna.

Desde que o mundo é mundo, as pessoas querem ser mais bonitas. Homens e mulheres, vamos deixar bem claro. Mas, o que é ser bonito? Beleza é uma convenção da sociedade. Na era renascentista, as belas mulheres pintadas pelos mestres mostravam a perfeição dos corpos, corpos esses saudáveis e um pouco roliços, como podemos perceber na pintura de Antonio Allegri, “Danae”. Ou mesmo a própria Monalisa de Leonardo da Vinci, que não nos parece uma moça anoréxica.

Mesmo as divas do cinema, clicadas por Hurrell, nos mostram um padrão de beleza completamente diferente do que vemos hoje em dia. Nas décadas de 30 e 40, quanto mais largo o quadril, mais bela. A famosa cinturinha de pilão. Jean Harlow e Jeane Russel são os melhores exemplos. E o que dizer das lindas modelos de Fernando Botero? Gordinhas e simpáticas, tomaram a década de 50 e 60 em pinturas e esculturas ao redor do mundo. Até sua própria Monalisa ele fez.

A cada momento nossa concepção pré-fabricada de beleza passa por transformações. Por conta dos milhões de norte-americanos obesos, viciados em fast-food, estar um pouco acima do peso, porém completamente saudável, virou uma coisa condenável. Infelizmente grande parte do mundo se baseia nessa cultura dominante e as gêmeas Olsen e a Ally McBeal acabam virando parâmetro para as meninas de hoje.

A beleza já foi estudada e é considerada uma ciência. Em rasas palavras, quanto mais simétrica for a pessoa, mais bela ela é considerada pela grande maioria dos espectadores. Por isso aqueles atores que todos consideram belezas unânimes fazem tanto sucesso. É comprovado que a beleza facilita a vida das pessoas e abre muitas portas, pessoal ou profissionalmente. Todos gostamos de observar um belo rosto. É mais agradável conviver com pessoas bonitas. E não sou eu que estou afirmando isso, é a Nancy Ettcoff em seu livro “A Ciência da Beleza”. Recomendo a leitura!

Se você é belo ou não, gordo ou magro, com ou sem plástica, o importante é estar feliz consigo. Viver uma vida plena, com as rugas, os desafios e tristezas que todos devemos passar. Mesmo que elas sejam escondidas debaixo do tapete ou, no caso, debaixo do botox.





“Danae” – Antonio Allegri
“La Gioconda (Mona Lisa)” – Leonardo da Vinci

“Mona Lisa” – Fernando Botero

“La Cama II” – Fernando Botero

Jean Harlow, por George Hurrell

Jeane Russell, por George Hurrell

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