26 de novembro de 2008


Por: Iomar Travaglinitravaglin@yahoo.com.br

A arquitetura e o poder:
O Palacete do Conde de Sarzedas e o Castelinho da Rua Apa.
Texto: Iomar Travaglin
Fotos: Tatiane Cornetti

Na historia da humanidade a arquitetura e as construções foram utilizadas pelos poderosos como ratificação de poder. Mesmo simples as moradias visam o conforto e raramente, salvo poucos estilos, são isentas de ornamentos. No Brasil a chegada da família real portuguesa em 1808 trouxe a idéia de hierarquia e os títulos de nobreza começaram a ditar o molde das construções. Dom João VI e seu sucessor Dom Pedro I distribuíram muitos títulos nobiliárquicos que possuíam a premissa de apaziguar ânimos junto aos colonos enriquecidos e fortalecer a idéia do império Português. A chamada “benesse” dos títulos hierárquicos cedidos aos brasileiros, vinha da tradição lusitana e obedeciam a processos burocráticos que incluíam documentos comprobatórios de mérito e riqueza assim como pagamentos para usufruí-los. Raramente hereditários, o grau máximo era o titulo de Duque, seguido por Marquês, Conde, Visconde e por ultimo Barão. O titulo de Duque quase não saía da família real e Luis Alves de Lima e Silva, Duque de Caxias, foi uma exceção, assim como as filhas que Dom Pedro teve com a paulistana Domitila de Castro. Segundo historiadores Domitila de Castro por pouco não foi Duquesa de Santa Cruz devido a intervenção de Dona Amélia cujo contrato de casamento incluía o banimento da Marquesa de Santos.

Na aristocracia paulista do Império e da República fazendeiros conhecidos como os Barões do Café construíram belíssimas construções que testemunham o poder de seus ocupantes. Hoje raríssimos exemplares são encontrados intactos e restaurados, normalmente ocupados por órgãos públicos. Uma das mais belas residências, localizada no centro de São Paulo, é o chamado Palacete do Conde de Sarzedas, hoje museu e Centro Cultural do Tribunal de Justiça de São Paulo.



Palacete do Conde de Sarzedas
Museu e Centro Cultural do Tribunal de Justiça de São Paulo

A historia dessa interessante construção em forma de castelo remonta ao final do século dezenove quando a região hoje conhecida como Bairro da Liberdade foi efetivamente povoado. Ali existia a chácara Tabatinguera pertencente à família do Conde de Sarzedas. O registro de posse remonta a Dom Francisco de Assis Lorena, filho de Bernardo Jose de Lorena, este último, governador da Capitania de São Paulo entre 1788 e 1797, sendo também vice-rei da Índia entre 1806 e 1816 e quinto Conde de Sarzedas, título criado e cedido por Felipe IV de Espanha em 1630. Anna Maria de Almeida Lorena, uma de suas moradoras, construiu a conhecida Capela do Menino Jesus e Santa Luzia permitindo também a abertura das Ruas Conselheiro Furtado e Conde de Sarzedas em suas terras. O palacete foi construído por volta de 1893, por um descendente de Dom Bernardo Jose de Lorena; Luis de Lorena Rodrigues Ferreira, quando de seu casamento com a francesa Marie Louise Dellanger sendo habitado pela família até 1939. Após esta data passou do completo abandono à ruína. Em 2001 foi tombado pelo COMPRESP, restaurado e hoje pertence à Fundação Carlos Chagas. Em seu interior é possível ver belíssimos vitrais e requintados trabalhos de entalhe em madeira incluso a escada que vai até a torre onde se imagina a vista de quando foi construído já que se encontra no topo de uma colina.




Palacete do Conde de Sarzedas
Museu e Centro Cultural do Tribunal de Justiça de São Paulo


 

Palacete do Conde de Sarzedas - Porta lateral


 

Palacete do Conde de Sarzedas - Detalhe dos vitral


 

Palacete do Conde de Sarzedas - Ladrilho hidráulico

As visitas são realizadas de segunda a sexta das 10 às 17 horas e a entrada é franca.No museu ali localizado há diversos materiais históricos da revolução de 1932, móveis e documentos raros.



Seguindo a trilhas dos castelos construídos “por amor”, encontramos o não menos aristocrático Castelinho da Rua Brigadeiro, totalmente restaurado da qual falaremos oportunamente e o Castelinho da Rua Apa, aqui já comentado, mas com a novidade de que a União proprietária do imóvel irá finalmente fazer reparos visando sua conservação. A decisão da conservação foi o coroamento de uma árdua luta da associação Preserva São Paulo que entrou com recurso para medidas urgentes de reparos já que o edifício encontra-se em estado critico sustentado apenas pelas paredes. Os exemplos bem sucedidos aqui apresentados, não impedem que baixemos a guarda contra a especulação imobiliária que insiste em ignorar nosso passado destruindo verdadeiras jóias arquitetônicas de nossa cidade.

A mobilização de todos é necessária para que a história da cidade sobreviva nos exemplares remanescentes de valor histórico e arquitetônico, premissa dos países europeus que entendem que a história e a identidade de um povo também são formadas por essas construções.

Veja mais fotos:http://picasaweb.google.com.br/tcornetti/CondeDeSarzedas

Preserva São PauloVisite o site:
www.preservasp.org.br

Museu e Centro Cultural do Tribunal de Justiça do Estado de SPRua Conde de Sarzedas, 100 - Liberdade - São Paulo
Horário de funcionamento de segunda a sexta-feira, das 10 às 17 horas
E-mail: museutj@tj.sp.gov.br

Um comentário:

Anônimo disse...

Parabéns pelo texto, Iomar, e à Tatiane pelas fotos. Nossa, gostei mesmo! Demorou para atualizar o blog mas valeu a espera. O Artes & Fatos está se firmando como um divulgador do patrimônio cultural da cidade - o piratininga.org que se cuide! E obrigado pela menção à ação do Castelinho e ao Preserva.
PS. Estou aguardando ansiosamente pelos próximos textos... assunto e fotos é que não faltam. E não deixem a gente esperando tanto da próxima vez!