17 de fevereiro de 2011

Filme: "A lenda do tesouro perdido" mostra os mistérios da arte e do conhecimento

Por Iomar Travaglin

Cena do filme "A lenda do tesouro perdido"

Nicolas Cage participou de diversas películas de ação e, entre altos e baixos na carreira, trabalhou com grandes diretores. O filme A lenda do tesouro perdido, vale principalmente pelo interesse que desperta em um assunto muito divulgado: O código da Vinci. Em A lenda..., Nicolas é Benjamim Franklin Gates, cuja família busca um fabuloso tesouro constituído de "todo conhecimento do mundo", guardado durante séculos pelos cavaleiros templários e posteriormente pela maçonaria.

Reprodução da capa francesa do filme A lenda do tesouro perdido.

O interessante do filme está justamente na relação entre a maçonaria e os americanos e nas peripécias dos protagonistas em descobrir o segredo. Os personagens se deparam com pistas do tesouro em símbolos sagrados da cultura dos Estados Unidos da América, como a Declaração da Independência Americana e conhecidos monumentos históricos daquele país. Repare na seqüência do roubo da Declaração e no personagem interpretado por Harvey Keitel, como o policial que nos faz lembrar Telma e Louise (1991), de Ridley Scott.

Produzido pela Disney, o filme levou cinco anos para ser realizado. As filmagens no Ártico foram feitas no estado norte-americano de Utah e o restante das cenas, em Washington, Filadélfia e Nova York. Por motivos de segurança foi necessário construir uma réplica da sala em que está exposto o documento da declaração da independência americana. Oportunidade de conhecer uma história, embora relacionada com o livro de Dan Brown, autor de O código Da Vinci, que, ao contrário deste, não formaliza polêmica e apresenta sugestiva reflexão sobre qual seria o verdadeiro tesouro dos templários e o conseqüente "conhecimento do mundo".

Monges Soldados
A soberana ordem dos Cavalheiros do Templo de Jerusalém, assim como os Cavalheiros Hospitalários e os Cavalheiros Teutônicos, garantia a guarda de lugares cristãos na Palestina e proteger peregrinações à chamada Terra Santa. Fundada no século IX, a ordem dos Cavalheiros do Templo possuía sede em Paris, no palácio do Templo, da onde deriva o nome. Conhecidos como "cruzados", por conta da cruz desenhada em suas vestes, possuíam regras severas: castidade, pobreza, obediência, não deviam olhar muito o rosto feminino ou beijar qualquer mulher. Em guerra, eram treinados para serem os mais fortes e em caso de captura pelo inimigo, não poderiam ser resgatados em troca de ouro ou espécie. Como força militar, os "monges soldados" serviam de escudos das tropas, colocados na vanguarda dos ataques e na retaguarda de todas as retiradas.

O grupo obedecia somente ao papa e possuíam livre trânsito por qualquer lugar, não pagando qualquer tipo de tributo. O contato com as riquezas dos espólios das constantes guerras e o fato de não pagar tributos, fizeram dos Cavalheiros do Templo uma instituição muito rica. No quadro Iluminura do século XV, de Jean de Courcy (Fig.1), observa-se a pilhagem (roubo praticado por tropas conquistadoras) de Jerusalém após sua captura pelos "cruzados" no século IX . Os cavalheiros do templo cobravam resgate para libertar líderes inimigos aprisionados, conseguindo dos monarcas conquistados, além de grandes somas, valiosas relíquias cristãs, como, por exemplo, fragmento da verdadeira cruz de Cristo e sua suposta coroa de espinhos. Isso se dava porque normalmente os reis inimigos ou pagãos não viam valor em tais relíquias que não pertenciam à sua cultura. Segundo a tradição, esses objetos estariam preservados na Saint Chapelle de Paris. Diante de grande riqueza, os templários agiam como banqueiros, emprestando dinheiros a reis e príncipes cristãos.

Iluminura do século XV, de Jean de Courcy (fig. 1)


Segundo pesquisadores e biógrafos de vários mestres templários, o contato com culturas pagãs distantes trouxe aos monges conhecimentos de ritos iniciáticos que incorporaram em sua ordem.

Em 1314, o rei francês Filipe IV decidiu suprimi-la. Acredita-se que foi movido por interesses políticos devido ao crescente poder da ordem e ao fato de ter sido preterido para presidi-la. Sob tortura, norteada por Guillaume de Nogareth, chefe da policia do rei, membros da ordem confessaram práticas homossexuais e adoração de imagens demoníacas. O processo durou sete anos e condenou o grão mestre Jacques de Molay e seu imediato, Geoffroy de Charney, já anciãos, a serem queimados vivos em praça publica sendo a ordem proibida na França.

Alegando inocência no momento do suplício, o grão-mestre da ordem convocou, "perante Deus e antes do ano terminar", as pessoas que condenaram ele mesmo e sua instituição e proferiu a sentença: "Malditos, malditos, malditos, convoco perante a justiça (e do trono) de Deus, no prazo de um ano, o papa, o rei e Nogareth, chefe da policia real..." O que realmente ocorreu no tempo previsto. Mediante a conclusão da profecia ficou-se estabelecido que os acusados eram inocentes e que havia sido proferida uma maldição. Segundo a tradição, os templários foram executados em frente à igreja de Notre Dame em Paris, numa sexta-feira 13, dia em que, a partir desse momento, é tido como agourento.

Com a supressão da ordem, os sobreviventes se aliaram em congregações secretas, formando a liga medieval dos canteiros e construtores das catedrais. A associação dos "pedreiros livres" (tradução de maçonaria) foi aberta a outras profissões no início do século XVIII e, rapidamente, espalhou-se da Inglaterra para o resto da Europa. Novamente atacada pela Igreja Católica e pelos governantes autocráticos que de novo temiam seu crescente poder; Wolfgand Amadeus Mozart, (1756-1791) como adepto da ordem, compôs sua última obra, a Flauta mágica, com símbolos e informações da irmandade no intuito de homenagear e defender a perseguida organização.

Nos Estados Unidos da America, a maçonaria foi igualmente popular, contando entre seus membros George Washington e Benjamim Franklin. O desaparecimento misterioso, em 1826, de William Morgan, que divulgava segredos de sua loja (local de reunião dos maçons), levou a uma investigação descobrindo que muitos detentores de cargos públicos pertenciam à instituição.

O mistério do quadro de Poisson, Pastores da Arcádia
Nicolas Poisson (1594-1665) pintor e mestre francês, conhecido pela pintura de paisagens bucólicas, se encontra ligado a um segredo que hoje é alvo de controvérsias. Em meados do século XIX, o padre Bérenger Saunière (1852-1917), quando reformava a igreja de Chateau-Sur-Rennes na França, encontrou pergaminhos antigos em latim e francês. Enviou-os a Paris e, de posse de informações sobre os mesmos, encomendou uma cópia do quadro Pastores da Arcádia de Poisson (Fig.2). Com a ajuda de sua governanta, Marie Dénarnaud (1868-1953), o padre empreendeu uma busca que, ao que parece, culminou em êxito, pois o religioso, em pouco tempo, enriqueceu e adquiriu muitas propriedades, colocando-as em nome de Marie, sua protegida. Intrigados, alguns superiores questionaram esse súbito enriquecimento o que o padre respondeu tratar-se de herança familiar. Posteriormente descobriu-se que o padre e Marie tiveram acesso a uma chave que levaria a um tesouro, segredo que já havia feito uma vítima: um camponês que, perseguindo uma ovelha, deparou-se com uma cova cheia de ouro e esqueletos. Não saiu de lá sem antes preencher como podia os bolsos, porém, sem responder onde havia conseguido a fortuna, foi executado como ladrão.

Reprodução do quadro Os pastores da arcádia, de Nicolas Poussin (fig. 2)

Após a morte do padre Marie Dénarnaud herdou o segredo e supostamente o tesouro, porem na Segunda Grande Guerra ficou em dificuldades quando o governo intimou os habitantes quanto à origem de suas rendas. Já idosa, contou sua aventura a um amigo prometendo informar o local da cova. Faleceu, em 1953, levando o segredo ao túmulo. Quanto ao quadro, o que se sabe é que possivelmente guarda a chave de um túmulo existente em Rennes-le-Chateau. Historiadores acreditam que todo esse mistério teria sido forjado por Bèrenger, pois o padre foi acusado de "tráfico de missas" ou doações ilícitas sendo que a ligação ao quadro e, conseqüentemente, ao tesouro teria sido uma engenhosa invenção.

Sabe-se, no entanto, que os templários eram muito ricos e lendas sobre tesouros abundam na região. Com certeza muito ouro e jóias foram enterradas na esperança de serem de novo resgatadas já que Felipe IV deixou claro que o interesse da coroa era sobre as riquezas que acumularam.

A região de Rennes-le-château é um lugar na França de rica história e os templários possuíam castelos naquela região. Ao que conta a lenda, a congregação era depositária do nunca encontrado tesouro do Templo de Jerusalém, roubado pelos Romanos em meados do século I d.C de valor histórico e monetário incalculável.

Riquezas desaparecidas
Na Segunda Grande Guerra muitos tesouros em pinturas e obras de arte desapareceram por ordem dos nazistas. Hitler e seu primeiro ministro, Goringer, esconderam em uma mina o produto de saques: pinturas, jóias e dinheiro roubado das vítimas mortas em campos de concentração e de muitos museus da Europa. Alguns tesouros foram recuperados pelos aliados em minas e fossas, mas alguns ainda se encontram desaparecidos. É o caso da fabulosa sala de Âmbar dos Czares: totalmente trabalhada em âmbar e com chão revestido de madrepérola, a sala foi presente de Frederico Guilherme I, da Prússia, a Pedro, imperador Russo, no ano de 1716. A Sala de Âmbar era a mais suntuosa das dependências do Palácio de Catarina II, em Tsarskoe Selo, palácio dos Czares nos arredores de São Petersburgo. A sala era um enorme cofre revestido de painéis de âmbar desmontáveis. Foi escondida no castelo de Konigsberg pelos nazistas, mas, com a aproximação dos aliados e o incêndio que se seguiu, nunca mais foi encontrada. Outro roubo realizado em Berlim foram o das jóias encontradas por Schliemann, em 1873, nas ruínas da mítica Tróia. As jóias são peças únicas da ourivesaria grega e foram doadas pelo casal Schiliemann ao museu de Berlim, desaparecendo em 1945. Sophie Schiliemann usa algumas destas jóias em foto junto ao marido tirada à época da descoberta (Fig.3). O Tesouro compunha-se de aproximadamente 10 mil objetos de ouro, entre taças, brincos, diademas e colares.

                                             Retratos de Sophia e Heinrich Schliemann (fig. 3)

Outra obra de arte, com curioso histórico de roubo, é o retrato de Jacob de Gheyn III (Fig.4), de Rembrandt (1606-1669). O quadro foi roubado, em 1966, da Dulwich Picture Gallery, recuperado e novamente roubado em 1973. Recuperado em 1981, sumiu novamente em 1983 e, desta vez, não encontrada.

Retrato de Jacob Gheyn III (Fig.4)

Legado para um novo mundo
Alguns críticos contestam a história de Dan Brown e todo o aparato escrito sobre os templários como uma construção que visa legitimar pretensas realezas, vide o livro O código Da Vinci. O que se sabe historicamente é que os templários existiram e foram fiéis ao seu propósito religioso de proteger lugares considerados sagrados. Sobre o tesouro "deles" estar escondido na América do Norte, como mostra o filme pode ser vista como uma resposta ao conhecimento que falta aos Estados Unidos da América enquanto produção cultural. As polêmicas existem, mas, considerando que estamos trabalhando e escrevendo em cima de hipóteses, seria mais coerente admitir que o famoso tesouro do templo de Jerusalém pode estar, na realidade, escondido na América Hispânica, pois a Ordem continuou a agir, em outro contexto, na Península Ibérica.

Os tesouros históricos trazem em si o conhecimento de pessoas e de povos que elucidam e justificam culturas desaparecidas, mas um tesouro pode ser utilizado em prol da ciência. É o caso de John Smithson, um visionário inglês que legou aos Estados Unidos da América sua fortuna em prol do conhecimento. Sem nunca estar na América, deixou em testamento que sua fortuna fosse entregue como subsídios para pesquisa ao recém-criado auto-governo dos americanos. Abalado com os rumos da Revolução Francesa, e rejeitado pela Inglaterra por questões de nascimento, John Smithson pensou que estaria surgindo uma "nova Athenas" ou um pais livre, voltado para a ciência e para o conhecimento em prol de causas sociais. Smitson gostaria que novas descobertas científicas fossem desenvolvidas numa república independente e não em uma monarquia. Faleceu em 1829, três anos depois de ter escrito o seu testamento. Depois de prolongada discussão do legado, chegou-se a dizer que a nação se rebaixaria ao aceitar doação de estrangeiros, contudo, o congresso americano autorizou o presidente a buscar o dinheiro. Assim, em 1838, chegava em Nova York um navio com 105 sacos de soberanos de ouro, que na época valiam exatamente US$ 508.318,46 dólares. Somente em 1847 foi colocada a pedra fundamental do instituto que hoje é o maior centro de pesquisa dos Estados Unidos da América. Assim nasceu o Smithosnian Institute, que compreende uma grande área verde, o Mall, 19 museus e nove centros de pesquisas. Estende-se para oeste a partir do Capitólio dos EUA, em Washington, até o Rio Potomac, ladeada pelo conjunto imponente de seus museus, que são conhecidos coletivamente como Smithosonian. Entre outros edifícios, estão os Museus do Ar e do Espaço, de História Natural, de História da América e de Arte Africana; a Galeria de Arte Freer, famosa por sua coleção de arte oriental e islâmica; a Galeria Sackler, o museu (de arte moderna) e o jardim de Escultura Hirschhorm. O complexo também é associado à Galeria nacional de Arte, aos centros John F. Kennedy para as Artes Dramáticas e o Centro Woodrow Wilson para pesquisas. Os museus estão em Washington e em Cooper-Hewer, em Nova York. Ainda na capital americana, há ainda o Zoológico Nacional que, entre outras pesquisas, contribui para salvamento de espécies animais ameaçadas de extinção no mundo todo. Em 1904 foram trazidos os restos mortais do idealizador que repousam na capela ao lado do centro de pesquisas. O objetivo de James Smithson para o aumento e disseminação do conhecimento foi triunfantemente concretizado, fazendo pensar que muitas vezes o ouro, bem empregado, pode contribuir para o "conhecimento do mundo".

Livros e filmes sobre o assunto:
A lenda do tesouro perdido
Título original: National Treasure
Diretor: Jon Turteltaub.
Atores: Nicolas Cage, Justin Bartha, Sean Bean, Harvey Keitel e Diane Kruger.
Roteiro: Jim Kouf, Cormac Wibberley e Marianne Wibberley.
Produtor: Jerry Bruckeheimer e John Turtletaub
País: Estados Unidos da América
Ano: 2004

Bibliografia:
READ, Piers Paul. Os templários. Rio de janeiro: Imago, 2001.366p.

FALBEL, Nachman. Kidush Hashem: crônicas hebraicas sobre as cruzadas. São Paulo : Edusp, 2001. 375 p. il. Mapas. Por.

ARQUITETURA DA DESTRUIÇÃO. Direção e produção Peter Cohen. São Paulo: Cult Filmes, 1992. Fita de vídeo, 121 min., PB/ Color.

Os Grandes Mistérios do Passado - Lisboa, Reader´s Digest, 1996. (Seleção de Reader´s Digest)

2 comentários:

Anônimo disse...

Reflexão estonteneante aqui, opiniôes assim dão brilho ao indivíduo que reflectir nesta página :/
Dá mair quantidade do teu espaço, a todos os teus utilizadores.

Anônimo disse...

Então interessante este blog parece bem desenvolvido.........Boa pinta :/
Adorei faz mais posts assim !!