O fascínio do mar e o poder em tempos de guerra retratados
no cinema e na pintura.
no cinema e na pintura.
Por: Iomar Travaglin
Poucas histórias fascinam o público como o do naufrágio do
transatlântico Titanic. Ocorrido em 10 de maio de 1912, a tragédia gerou
polêmica e no cinema muitas produções ligadas ao assunto foram e ainda hoje são
produzidas. Uma delas foi utilizada em plena Segunda Guerra para atacar a
Inglaterra.
O épico alemão Titanic, de 1943, possui seu enredo adaptado a
mando do chefe da propaganda nazista Joseph Goebbels (1897-1945). O filme
mostra um ambicioso empresário que obriga comandantes e oficiais a navegar com
o navio em velocidade máxima, no intuito de bater um recorde de viagem, para
com isto ganhar credibilidade e vender ações da falida empresa que financiou o
luxuoso transatlântico. Todos os personagens são fictícios, mas estão
associados à ambição de empresários e lordes ingleses. Segundo a resenha do
filme, presente nos extras do DVD, existe uma associação do personagem do
empresário com o arquétipo do judeu típico e com a arrogância inglesa na figura
dos lordes, temas que a Gestapo gostaria de legitimar através de
entretenimento.
Essas associações estão presentes, por exemplo, na cena em que alguns
empresários tentam comprar vagas nos botes salva-vidas perante o alemão
incorruptível, e quando a dançarina lasciva, também com traços judaicos, beija
dois homens que a cortejam.
O iceberg é apenas um suporte na condução da historia que pretendia,
utilizando uma situação política, atacar a Inglaterra, principalmente no final
inesperado, no qual o empresário é caracterizado como judeu e julgado pela
morte de 1.500 pessoas no naufrágio. O filme foi banido pela própria Gestapo
quando um cinema onde era exibido foi bombardeado, possivelmente pelos
ingleses. Segundo pesquisas históricas, o próprio diretor foi assassinado, por
não concordar com algumas exigências da produção, fato encoberto e transformado
em um suicídio. Como curiosidade: preste atenção no resgate do homem acusado de
roubo e no diamante azul, fatos que James Cameron utilizaria à exaustão no seu
Titanic de 1997. Nos extras um raro documentário sobre o transatlântico na
época de sua viagem inaugural.
Pouco tempo depois da tragédia, houve nos Estados Unidos da América uma
versão muda do naufrágio (1913), e em 1953 foi realizada a superprodução
Titanic. Na Inglaterra, A night to remember (1958) é baseado em relatos
de sobreviventes e por isso se aproxima do que realmente teria acontecido
naquela fatídica meia-noite, quando um iceberg pôs fim à viagem inaugural do
navio, causando o desaparecimento de aproximadamente 1.500 pessoas.
Filme nazista no Brasil
Em 1938, um filme germânico com atores brasileiros e alemães, tendo a
exploração da borracha e o capitalismo expansionista como tema principal, foi
financiado pelo Partido Nacional Socialista. À época, o ministro da propaganda
Joseph Goebbels declarou que o filme era "muito valoroso, tanto política
quanto artisticamente, numa brilhante realização". O filme chamava-se O
inferno verde (Kautschuk, 1938), e teve gravações na Amazônia e nos
estúdios Travemünde, em Schleswig-Holstein e Babelsberg, em Berlin. Dirigido
por Eduard Von Bosordy, contava com astros de primeira grandeza do cinema
alemão, como René Deltgen, Gustav Diessl e o brasileiro José Alcântara. Rodado
com imagens documentais, tornou-se um bem-sucedido lançamento em 1938.
O Partido Nacional Socialista, dirigido pelo Terceiro Reich, possuía
relações contraditórias com a cultura e entretenimento. Quanto ao Brasil,
segundo estudos e descobertas recentes, havia o projeto do nazismo para dominar
a América Latina, conservando apenas Argentina, Bolívia e Brasil. Usando nosso
país com celeiro do mundo, a força militar nazista contava com o apoio da
Argentina, cujo presidente à época, Juan Domingos Perón, se posicionou favorável
a Alemanha e ao Füher.
O mar regido por Netuno
Desde o início da civilização, o mar inspirou respeito e medo em quem
ousava desafiá-lo. E em várias culturas, deuses surgiram para representar seu
poder. Na mitologia grega, o mar é regido por Netuno, principal divindade das
águas. Seu símbolo de poder é o tridente, ou lança de três pontas que usava
para abalar os rochedos, desencadear ou amainar tempestades. Segundo a
tradição, teria criado o cavalo das espumas do mar e era considerado padroeiro
das corridas eqüestres.
Acreditava-se na Idade Média que a terra era o centro do universo e os
navios que partiam para o mar iriam encontrar grandes cachoeiras que
despencariam no infinito. No século XV começaram as grandes navegações, e os
habitantes da Península Ibérica foram os que primeiro venceram os medos e partiram
às conquistas. Embora haja relatos de exímios navegadores entre povos antigos,
como vikings e chineses, os portugueses e espanhóis formalizaram caminhos e
acessos a novas culturas.
No inicio daquele século, pequenas embarcações com poucos tripulantes
eram denominados baixéis, barcas ou "barchas", batéis, bergantins,
caravelas ou pinaças. Em menos de cem anos surgia "a nova caravela",
de casco longo, possuindo dois ou três mastros com velas triangulares ou
"latinas" que permitiriam manobras ágeis, substituindo as velas
quadrangulares ou redondas. A partir do século XVI, os barcos que faziam o
roteiro de rotas para as Índias seriam designados naus, nome adotado para
grandes navios. Esses grandes navios seriam as carraças dos séculos XVI e XVII
e as fragatas do século XVIII. Entre uma carraça (nau) e o galeão, as
diferenças mais gritantes estavam na utilização: a primeira, comercial, era
mais larga, alta, pesada e pouco armada, enquanto o galeão, mais comprido, era
guarnecido com canhões. Os navios usados na navegação eram, no século XVI,
caravelas e outras embarcações com capacidade entre 100 e 150 toneladas de
carga. Contudo, por ser pouco armadas, tornaram-se presa fácil de piratas e ladrões,
obrigando os portugueses a adotarem sistemas de frotas e iniciarem a construção
de navios maiores e melhores.
As viagens feitas com navio à vela cruzando oceanos eram consideradas as
mais árduas. Viagens a caminho das Índias demoravam em média de seis a oito
meses. As viagens ao Brasil, no entanto, eram bem mais curtas. De Lisboa à
Bahia, o tempo estimado da viagem era de dois a três meses, para Recife ou Rio
de Janeiro poderia representar alguns dias a mais. O fator tempo era
importantíssimo; partindo nas épocas certas, quase sempre se evitavam
tempestades.
A trilha das Índias, ao contrário, tem um longa história de naufrágios.
Em uma obra chamada História trágico-marítima, compilada por Bernardo Gomes de
Brito no século XVIII, há relatos dramáticos, que vão desde superlotações,
desespero, e afundamentos onde a escolha de botes priorizava os aristocratas e
clérigos, deixando, segundo o autor, as "pessoas menos gradas
(graduadas)" para os tubarões.
A Barca da Medusa
O quadro a Barca da Medusa representa a tragédia real do navio Medusa,
que naufragou perto do litoral do Marrocos. Em 1816 uma fragata francesa
comandada por um incompetente capitão, afundou. Este entrou num dos poucos
botes salva-vidas, deixando os passageiros, que considerava seus inferiores,
abandonados à própria sorte. Segundo historiadores e sobreviventes, houve casos
de canibalismo e loucura devido à fome e a longa permanência no mar.
Théodore Géricault (1791-1824), pintor engajado, retratou a tragédia no
momento em que os sobreviventes avistam um navio que poderia resgatá-los
(Fig.1). Apesar de pouca produção pictórica o pintor influenciou em muito a
pintura Romântica do período, e até hoje é referência do movimento. O fotografo
Joel Peter Witkin realizou, dentro do seu estilo, o que poderia ser o naufrágio
da política norte-americana. Baseado na celebrada obra de Gericault, Witkin
criou a sua versão de uma tragédia: a intervenção americana na guerra do Irã
(Fig.2). Nela, vemos Bush filho sentado com todos seus dirigentes em um barco semidestruído.
Note as lâmpadas na cabeça de Bush, em a alusão de suas "grandes
idéias" e sua mão "pousada" sobre Condolezza Rice. Nesta obra,
com humor e irreverência, o fotógrafo mostra a influência norte-americana e os
erros que uma política autoritária pode cometer.
Saiba mais sobre o filme O Inferno verde
Veja texto completo sobre a foto de Witkin
Cartaz do filme Titanic
|
Théodore Géricault - A jangada da
Medusa, de 1819 (fig.1)
|
Joel Peter Witkin - Raft of George W. Bush (fig. 2) |
Filmes e Livros sobre o assunto:
Dicionário Oxford de Arte. São Paulo: M. Fontes, 1996. 584 p. Por.
Paradis perdus
l'europe symboliste. Montreal: Flammarion, 1995. 552 p. Fotos. Fra.
Direção Ridley Scott. 1492: a
conquista do paraíso. São Paulo: Vídeo Arte do Brasil, 1992. Fita de vídeo/DVD,
150 min., Color. Por, Ing.
Titanic País de origem: Alemanha
Ano: 1943
Duração: 85 min
Direção: Herbert Selpin e Werner Klinger
Ano: 1943
Duração: 85 min
Direção: Herbert Selpin e Werner Klinger
O inferno verde
Título original:Kautschuk
País de origem: Alemanha
Ano: 1938
Duração: 104 min
Título original:Kautschuk
País de origem: Alemanha
Ano: 1938
Duração: 104 min
Direção: Eduard von Bosordy
Um comentário:
Muito legal
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