Por: Rodrigo Ruiz
John Ford devia um favor a
Harry Cohn, o maioral da Colúmbia, um favor que ele pagou meio que à
contragosto, diga-se de passagem. O velho Ford era temperamental. Mesmo contra
sua vontade, assumiu a tarefa e acertou a mão em mais este western, digno de
sua longa filmografia.
Trata-se de Terra Bruta (Two
Rode Together -1961), uma página dramática da colonização do Oeste. Para Peter Bogdanovich, no
livro que ele fez sobre John Ford, o diretor diz que não gostou do roteiro
escrito pelo seu colaborador de longa data, Frank S. Nugent, baseado no romance
Comanche Captives, de Will Cook.
Azar de John Ford e sorte
nossa. Entretanto, os elementos
fordianos estão ali: a construção da civilização norte-americana, a influência
da religião nos usos e costumes, as dificuldades inerentes a essa sociedade em
desenvolvimento,etc,etc.
Tudo ali traz a assinatura do
mestre. Tudo ali aparenta uma perfeita sintonia com os westerns anteriores do
diretor e apresenta um novo aspecto em contraposição àqueles: a visão mais
humanista do índio.
No filme, um velho delegado
(James Stewart) é contratado contra sua vontade (olha aí a semelhança curiosa
com a situação de Ford em relação ao favorzinho devido a Harry Cohn) para
auxiliar o exército na busca de mulheres e crianças brancas sequestradas pelos
índios comanches.
O delegado Guthrie McCabe é
interpretado pelo sempre ótimo James Stewart (em sua primeira atuação sob a
batuta de Ford) que dá uma certa dose, bem equilibrada por sinal, de comicidade
e drama à personagem. Stewart foi um daqueles raros talentos que podia ir de um
extremo ao outro sem prejudicar sua atuação.
Por: Rodrigo Ruiz
John Ford devia um favor a
Harry Cohn, o maioral da Colúmbia, um favor que ele pagou meio que à
contragosto, diga-se de passagem. O velho Ford era temperamental. Mesmo contra
sua vontade, assumiu a tarefa e acertou a mão em mais este western, digno de
sua longa filmografia.
Trata-se de Terra Bruta (Two
Rode Together -1961), uma página dramática da colonização do Oeste. Para Peter Bogdanovich, no
livro que ele fez sobre John Ford, o diretor diz que não gostou do roteiro
escrito pelo seu colaborador de longa data, Frank S. Nugent, baseado no romance
Comanche Captives, de Will Cook.
Azar de John Ford e sorte
nossa. Entretanto, os elementos
fordianos estão ali: a construção da civilização norte-americana, a influência
da religião nos usos e costumes, as dificuldades inerentes a essa sociedade em
desenvolvimento,etc,etc.
Tudo ali traz a assinatura do
mestre. Tudo ali aparenta uma perfeita sintonia com os westerns anteriores do
diretor e apresenta um novo aspecto em contraposição àqueles: a visão mais
humanista do índio.
No filme, um velho delegado
(James Stewart) é contratado contra sua vontade (olha aí a semelhança curiosa
com a situação de Ford em relação ao favorzinho devido a Harry Cohn) para
auxiliar o exército na busca de mulheres e crianças brancas sequestradas pelos
índios comanches.
O delegado Guthrie McCabe é
interpretado pelo sempre ótimo James Stewart (em sua primeira atuação sob a
batuta de Ford) que dá uma certa dose, bem equilibrada por sinal, de comicidade
e drama à personagem. Stewart foi um daqueles raros talentos que podia ir de um
extremo ao outro sem prejudicar sua atuação.
McCabe
detesta a idéia de deixar a vida boa de delegado numa cidadezinha pacata onde
ele detém 10% de todos os negócios ali, mas acaba aceitando como uma forma de
fugir da influência da noiva mandona e intrometida, Madame Belle Aragon
(Annelle Hayes).
Na
jornada que ele irá empreender, McCabe terá a companhia de seu amigo o tenente
Jim Gary, interpretado por Richard Widmark.
A
química entre os dois atores está muito boa e fica evidente em uma das mais legais
cenas do filme, quando ambos, seguindo viagem para o forte, sentam-se para
descansar à beira de um riacho e empreendem um diálogo divertido. A câmera não
se movimenta e fica durante alguns minutos vidrada em ambos. É um cena bem simples, mas carregada de
criatividade, da criatividade fordiana.
Aliás,
bons diálogos não faltam ao filme, por exemplo nas cenas iniciais, quando o
atendente do saloon, Jesus, aproximasse do delegado McCabe, que está sentado
sonolento numa cadeira no alpendre, para levar-lhe uma cerveja, e lhe diz:
-
Señor, a viúva Gomez deu à luz um menino esta manhã.
-
Parabéns para a viúva Gomez!
-Mas,
señor, faz mais de um ano que enterraram o señor Gomez no cemitério paroquial!
-
Bem, tem mortos que não conseguem ficar num mesmo lugar.
E
pensar que Ford torceu o nariz para o roteiro de Frank Nugent...
Terra
Bruta traz referências do filme Rastros de Ódio, a principal é justamente a
questão do rapto de mulheres e crianças pelos índios, fato esse que fora muito
bem mostrado naquele grande western de 1956 estrelado por John Wayne e Natalie
Wood.
Henry
Brandon, que atuou em Rastros de Ódio como o chefe comanche Scar, aqui
interpreta uma personagem real, o comanche Quanah Parker que era filho de Peta
Nocona, um comanche e de Cinthia Ann Parker, mulher branca, raptada aos nove
anos de idade pela tribo de Nocona.
O
desespero das famílias dos colonos atingidas por esse flagelo é mostrado de
modo sensível no filme. Homens e mulheres que se deslocam de grandes distâncias,
gastando talvez todo o seu dinheiro para encontrar seus filhos e parentes
seqüestrados.
Esse
aspecto central do filme traz algumas cenas memoráveis, por exemplo, o jovem
comanche Lobo Corredor, um menino branco que fora seqüestrado na infância, que
é objeto da troca por rifles e levado por McCabe e Jim Gary para seus supostos
pais, decorrendo disso uma tragédia e a esposa de um pregador fanático que vive
há anos como uma das mulheres de um chefe índio e que, envergonhada por sua
condição, pede a McCabe e Jim para que contem a sua família verdadeira que ela está
morta.
Ford
focaliza a questão da inculturação dos brancos obrigados a conviverem com os
índios, tornando-se como eles. Eles acolhem os costumes indígenas, mas não se
esquecem completamente de sua real identidade, ou ao menos, lembram-se de
alguns detalhes de sua vida anterior.
A
única mulher que retorna à convivência da sociedade branca é a mexicana Elena
de La Madriaga, interpretada pela formosa atriz Linda Cristal. Seu retorno é
amargo, pois a mesma é submetida à humilhante sessão de perguntas
preconceituosas das mulheres dos oficiais do exército durante um baile. Ela
perde o baile, mas ganha o coração do delegado.
O
filme é o segundo dos quatro westerns de John Ford nos anos 60 e apesar de ser
pouco valorizado pelo mestre, traz em si os elementos do revisionismo fordiano
que modificaria sensivelmente sua obra naquele período, culminando com o seu derradeiro
western, de dimensões épicas, Crepúsculo de Uma Raça (Cheyenne Autumn-1964).
Terra
Bruta surgiu em uma fase de decadência para os filmes de faroeste que seriam
atropelados pelo advento do spaghetti western na segunda metade daquela década,
entretanto, ainda traz a essência e a beleza fascinantes do que se costumava
considerar o cinema americano por excelência. E sem dúvida nenhuma, John Ford
foi seu principal cultor.
Ficha Técnica:
Terra
Bruta (Two Rode Together, 1961)
Direção: John Ford
Roteiro: Frank Nugent (adaptação do romance de Will
Cook)
Elenco: James Stewart, Richard Widmark, Shirley Jones,
Linda Cristal, Andy Devine.
Rodrigo Ruiz,
paulistano de nascimento, desde 2001 mora em Itapira. Apaixonado por livros,
trabalha em biblioteca e, nas horas livres, pesquisa sobre a Revolução
Constitucionalista de 1932. Suas paixões são Cinema, História, Quadrinhos e
Música.
Ficha Técnica:
Rodrigo Ruiz, paulistano de nascimento, desde 2001 mora em Itapira. Apaixonado por livros, trabalha em biblioteca e, nas horas livres, pesquisa sobre a Revolução Constitucionalista de 1932. Suas paixões são Cinema, História, Quadrinhos e Música.
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